sábado, 10 de janeiro de 2009

Nada é tão clássico que não possa ser popular...


Aos 12 anos troquei o Plié pelo Stacatto e mais tarde o Minuetto pelo Choro. Quando todos os meus amigos ouviam Mamonas Assassinas eu cantarolava "I should be dancing" dos Bee Gees enquanto saía do Colégio São José à caminho de casa.


Sempre fui da “pá virada” e no começo tinha medo de assumir publicamente meus gostos, mas depois de certa idade vi que isso não tinha menor cabimento.


Comecei com a calça xadrez, fui decidia à loja de tecidos Imperial onde comprei meu primeiro corte e como se não bastasse a audácia, mandei fazer um modelo clássico na alfaiataria mais antiga de Curitiba, a Alfaiataria Saldanha. Claro que meu primeiro “desfile” com ela não foi nada convencional, mas eu não me importava e sem pudor passei pela rua XV numa semana bem movimentada. Todos os olhares estavam voltados pras minhas pernas. Alguns com aprovação, outros com estranheza e acreditem, algumas pessoas vieram me perguntar, em tom de segredo, onde eu havia comprado, como se fosse motivo de vergonha para elas gostar da “bendita” calça xadrez.


Naquele momento percebi que eu não estava assim tão fora dos padrões, apenas fiz o que muitos gostariam de fazer, mas não tinham coragem. Claro que a estilista Glória Kalil já tinha anunciado a nova tendência, mas como eu raramente acompanho a moda, fiquei sabendo dessa valorosa informação depois que miraculosamente calças xadrez de todos os tipos, apareceram em outras pernas também.


Já que estamos falando de extravagância... Sempre fui fissurada por chapéus, mas por ser mulher e morar em um país tropical, o uso desse acessório sempre ficou a encargo dos homens e das mulheres chick’s do high society. Mas até ser popularizado novamente, fiquei com as mãos, ou melhor, com a cabeça coçando pra poder usar um. Afinal, eu já tinha uma calça xadrez, agora só faltava o chapéu. Pétaso foi o primeiro chapéu a ser usado na história da humanidade, esse modelo que foi predominante por toda a Idade Média, era usado pelos gregos em suas viagens, como forma de proteção. O tempo passou e a partir da segunda metade do séc. XVIII a criação deste acessório tornou-se mais ousada e criativa, atingindo seu ápice no período da Belle Époque, entre o fim do séc. XIX e início do séc. XX.


Se antes o chapéu era usado apenas como forma de proteção, ele nunca mais foi o mesmo depois da chegada do Chochê. Nessa época os chapéus, especialmente os femininos, eram riquíssimos. Feitos em feltro, palha e veludo eram adornados com fitas, véus, plumas, flores e penas de aves exóticas. Quanto maior fosse seu glamour, maior a denotação de elegância e riqueza.


E como é bom saber que não estamos sozinhos. No Orkut existe uma comunidade em prol da volta do chapéu. Com 2.425 membros, o mais interessante é a participação de jovens, não só os descolados, mas de diversos estilos. Em um dos tópicos você pode contar qual chapéu tem e os que gostaria de ter. O mais surpreendente são as respostas. Desde os clássicos Panamás, que pra muitos é "coisa de velho" até os de cowboy, cartolas, estilo Charles Chaplin, Che Guevara, grandes, pequenos, com bolinha, com listra... Em meio a esse dilema do que é clássico e do que é popular, o Fedora - que tem esse nome por conta da peça teatral Fédora, de Victorien Sardou é conhecido também como Borsalino, sobrenome do fundador de uma fábrica de chapéus em 1857- veio com tudo em 2007, para homens e mulheres, e o melhor, para todos os bolsos.


Finalmente tinha chegado à hora de comprar o meu. O preto com risca de giz ganhei da minha avó, este pude estrear em grande estilo, jogando sinuca com meu pai, tomando caipirinha de Estanhegue ao som de musica cubana em um bar “xiquérrimo” . O marrom eu mesma me presenteei e usei pela primeira vez indo para o ensaio do Conservatório de MPB num dia de muito frio. Eu só não podia contar que ele ia se popularizar tanto. De Madonna à Ne-Yo, de meninas com look retrô aos próprios senhores retrô da Boca Maldita, dos cantores de pagode aos alunos na saída da escola. O tal do Fedora estava em todos os locais, dos mais sofisticados à periferia, acompanhando os mais diversos estilos.


Mas não pensem que parei por ai, no meu cabideiro sempre há espaço para mais um. E não me refiro só a chapéus não. Blusas de Petit Poá, echarpes, anéis de acrílico no estilo “pra frentex”, sapatos de boneca... Não que eu agora, aos 21 anos seja ligada em moda, mas uma coisa tenho que agradecer a ela: poder tornar popular tudo aquilo que era clássico é de certa forma amenizar a barreira que existe entre as classes. E isso é muito legal!


Um comentário:

Jessyca Cardoso disse...

Sempre amei o seu estilo! E viva as boinas da Silvia...=D adoooro!